sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os Diaconos

Em termos meramente etimológicos, Diácono é o que se coloca a serviço de alguém, "aquele que serve". Genericamente todo cristão é um Diácono de Deus (servidor, ministro). Assim, Paulo, o Apóstolo, se autodenomina e a todos que servem a Deus ou a Cristo. Mencionam-se nas Sagradas Escrituras: "Timóteo, Ministro de Deus" (I Tessalonicenses 3:2); "Apolo e Paulo, Servos do Senhor" (I Coríntios 3:5); "Epafras, Ministro de Cristo" (Colossenses 1:5). Servo ou Ministro, em grego bíblico, apenas Diáconos.
Raramente no feminino, em linguagem arcaica o vocábulo diakonos ligava-se ao verdo diakoneõ - "trabalhar como criado, servir". Embora possa parecer palavra composta do prefixo dia = através - não há essa composição. Na realidade, origina-se do micênico kasikonos = "trabalhador, companheiro". Mais tarde, no grego clássico, teria o sentido de "servidor, mensageiro" e no grego helenístico, especializando-se, seria relacionado a "servidor de um Templo"(1)
Na comunidade de Jerusalém, ainda no primeiro século cristão, o nome Diácono identificava um determinado cargo comunitário voltado ao atendimento das necessidades materiais dos membros da jovem igreja, como hoje, por analogia, mais ou menos se espera, em Lojas Maçônicas, que seja feito pelos hospitaleiros. Bem se sabe que, logo nos primeiros dias da Cristandade, devido a problemas específicos, eis que a distribuição de bens e cuidados não se fazia de modo eficiente, foi necessária uma separação, distinguindo-se o Ministério da Palavra. Coube aos Diáconos, então instruídos, uma segunda função, de caráter caritativo ou assistencial, de atendimento às viúvas, órfãos e enfermos. Diziam os Apóstolos:
"Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas" (Atos, 6:2). O primeiro mártir, Estevão, foi um Diácono - alguém que servia os próprios irmãos.
Na Igreja posterior, primeiro no Oriente e, a partir do século V, também no Ocidente, tem-se notícia das diaconisas: mulheres incumbidas de instruir e batizar outras mulheres(2). Em Roma, o Diácono veio e instituiu-se em uma espécie de Segundo Grau, abaixo dos Padres ou Presbíteros. Nas denominações evangélicas há Diáconos e Diaconisas, genericamente incumbidos da assistência aos Irmãos.

FONTES MAÇÔNICAS

Os britânicos constituem-se em excelente fonte de estudos. Possuem documentos antigos e deram forma e consistência à Maçonaria que praticamos. A Grande Loja, The Premier Grand Lodge, organizada em Londres (1717), é o ponto obrigatório de passagem na história da Maçonaria em todas as partes do mundo. As velhas Lojas de Operários medievais não deixariam sucessores, caso não fosse criada a Grande Loja londrina, historicamente a primeira Obediência. Depois a idéia difundiu-se pelo Continente Europeu: França, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal. Foi à América.
Criou-se, inclusive, uma área latina, sob predominância cultural francesa, que viria a se constituir em origem da Maçonaria no Brasil, mas as raízes deste movimento moderno estão em seio inglês. Por isso é útil o exame dos Rituais ingleses.
A Grande Loja de Londres, ao ser fundada em 1717, não adotava Diáconos. Por certo, segundo evidências de que nos fala Harry Mendoza(3) e nos fornece detalhes Harry Carr(4), o cargo existiria na Most Ancient & Honorable Fraternity of Free and Accepted Masons (Mais Antiga e Respeitável Fraternidade de Maçons Livres e Aceitos), cerca de 1751, conhecida por Grande Loja dos Antigos, rival da Grande Loja londrina, a quem os Antigos, com sentido depreciativo, denominavam de "Modernos". Laurence Dermott, o notável Grande Secretário dessa Obediência histórica, registraria, em 1753, atas dos Antigos, bem como, em 1754, atas da Loja nº 37, que ele mesmo serviria como Junior e como Senior Deacon (Segundo e Primeiro Diácono, respectivamente), assim como Vigilante, antes de ser instalado Mestre na Irlanda em 1746. Outrossim algumas Lojas que se associaram após 1717 à Grande Loja de Londres, possuíam o cargo de Diácono, embora, reiteremos, a Grande Loja, oficialmente, não o adotasse. Os ingleses sempre mantiveram certa liberdade de procedimentos internos das Lojas.
Conforme apontamentos de Carr (op. cit. p. 88) e Mendoza (op. cit. p. 17), a mais antiga referência a diáconos, em uma Loja na Inglaterra, é datada de 1733/34, em Swalwell, Gateshead, Durham, descrevendo-se seus deveres como "mensageiros do Venerável e dos Vigilantes". As Lojas que não possuíam Diáconos utilizavam os serviços do Mestre de Banquetes (Steward) ou do Segundo Vigilante (Junior Warden). Os Stewards, tudo indica, não reduziam suas funções apenas a atividades de banquetes, mas sim levavam mensagens (missão dos Diáconos) bem como desempenhavam parte das funções Ritualísticas hoje, no R.?. E.?. A.?. A.?., por exemplo, reservada aos Expertos.
Afinal, quando das tratativas para a união das duas Grandes Lojas inglesas rivais (a dos Antigos e a dos Modernos), foi criada, em 1809, a Special Lodge of Promulgation, nesta a resolução de se adotarem Diáconos. Com ressalvas. A nota resumida, então publicada, recomendava que os Diáconos fossem utilizados, mesmo que, pelo devido exame, ficasse provado que não se constituíam em uma função antiga, apenas sendo Oficiais úteis e necessários: "Resolved that Deacons (being proved on due investigation, to be not only Ancient but useful and necessary Officers) be reconmended ...". E, na ata da Old Dundee Lodge, nº 18, datada de 8 de fevereiro de 1810 (Apud Carr, idem, ibidem) encontra-se interessante registro de efeitos dessa adoção de 1809: "O Venerável Mestre relatou sobre a necessidade de mais dois novos Oficiais para atender às alterações efetuadas(5), informando que eles se denominam Diáconos (...) um Senior Diácono e um Júnior Diácono, a eles cabendo Jóias como no velho significado, isto é, Mercúrio, o mensageiro dos deuses, e não no moderno, "a pomba com um ramo de oliveira" (Carr, op. cit., p. 88/89). No Livro das Constituições, Grande Loja Unida da Inglaterra, 1815, se oficializaria o cargo.
É fácil, desse modo, compreender o motivo de os Ritos Adonhiramita e Moderno não adotarem Diáconos, distinguindo-se dos outros Ritos. Constituídos ainda no Século XVIII, anteriores pois à união das duas Grandes Lojas inglesas rivais, da qual resultaria a Grande Loja Unida da Inglaterra (1813), os dois Ritos em tela seguiam, na França, ao modo Ritualístico dos Modernos (Grande Loja de Londres), que não utilizava Diáconos oficialmente. E assim continuaram, mesmo após a mudança de 1809, nas tratativas para a união inglesa. Como continuariam com a inversão de Colunas, palavras, etc., providência que os Modernos haviam adotado em 1730, após a infidelidade de Samuel Prichard(6).

FUNÇÃO

A tradição tem dado aos Diáconos a função de mensageiros. Há exemplares antigos de Jóias desses Cargos (Primeiro e Segundo Diáconos) constituídas por um Mercúrio alado, o mensageiro dos seres do Olimpo, como há exemplares em que aparece a clássica forma da Pomba que traz no bico o ramo de oliveira, mensagem a Noé de que a água baixara e já havia terra firme após o dilúvio (Gênesis 8: 11). Em todos os Ritos, que possuem estes Oficiais, com variações próprias de cada Rito, sempre cabe aos Diáconos esta ou aquela missão de transmitir ordens ou mensagens, como levar o livro de atas para assinaturas, transmitir a Palavra Sagrada, etc.
De modo significativo, contudo, principalmente no sistema inglês, aos Diáconos cabe funções semelhantes a dos Expertos no R.'. E.'. A.'. A.'., já dissemos. À época em que a Grande Loja de Londres não adotava Diáconos, as funções hoje exercidas por eles em uma Loja inglesa, principalmente a de conduzir os Candidatos durante as Cerimônias, eram efetuadas pelos Vigilantes. Isso bem se vê na célebre Exposure de Prichard (Masonry Dissected, 1730) de que falamos acima

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